Carta Pastoral por ocasião do aniversário das paróquias de Santo António de Nova Oeiras e São Julião da Barra
Aos paroquianos da Unidade Pastoral
32 ANOS DAS PARÓQUIAS DA UP
Por ocasião do aniversário das paróquias
de
Santo António de Nova Oeiras e São Julião da Barra
“LANÇAI AS REDES…” (Jo 21, 6)
“NÓS VAMOS CONTIGO” (Jo 21, 3)
“SIMÃO PUXOU A REDE, CHEIA DE 153 GRANDES PEIXES. E, APESAR DE SEREM TANTOS, NÃO SE ROMPEU A REDE”. (Jo 21, 11)
Hoje é um dia muito especial para as duas paróquias, pois celebramos 32 anos de existência. É uma ocasião para nos reunirmos em ação de graças, para louvar e agradecer a Deus por tudo o que Ele tem feito por nós ao longo desses anos.
AÇÃO DE GRAÇAS
Gostaria de destacar três motivos específicos de ação de graças a Deus:
1º O primeiro motivo é pelos que estão na origem da nossa comunidade e muitos já partiram. Eles foram os fundadores das paróquias, aqueles que sonharam e trabalharam para que pudéssemos ter este lugar de encontro com Deus e com os irmãos. Por isso, oferecemos esta Missa em agradecimento por tudo o que fizeram por nós e por suas vidas dedicadas à construção de nossa comunidade.
2º O segundo motivo é por aqueles que foram animando e servindo a comunidade até hoje e fazem das nossas paróquias o que hoje somos e há já tanto caminho percorrido. São pessoas que, com sua dedicação, amor e serviço, foram moldando a identidade das paróquias ao longo destes anos. Agradecemos a Deus pelas suas vidas e pedimos que continuem a ser luz e sal para a nossa comunidade.
3º O terceiro motivo de ação de graças é muito concreto: agradecemos a Deus por todos os que se empenharam na vivência pastoral e litúrgica da Quaresma e da Semana Santa. Foram dias intensos e com muita dignidade, ordem e beleza: houve sentido de pertença à paróquia, os grupos procuraram dialogar e prestar ajuda entre si; houve cuidado em ser simples mas proporcionar máxima beleza nas celebrações; os grupos procuraram cumprir com a sua parte, minimizando problemas e possíveis tensões; houve busca de espiritualidade e aprofundamento da fé; houve preocupação em querer servir a comunidade, incentivando a participação de todos, e sentiu-se o desejo de glorificar a Deus, acima de tudo. É tão inspirador ver tantos exemplos de compromisso autêntico com a fé e na obediência filial à Igreja. Por tudo isso, fica a todos um enorme bem-haja!
DESAFIOS
Este ano celebramos o aniversário das duas paróquias em ambiente de oitava da Páscoa. E que bem que calha porque no caminho sinodal de sermos igreja, manifestamos hoje uma vez mais que somos testemunhas do Ressuscitado. Neste sentido, e inspirado nas palavras do Papa Francisco, gostaria de salientar três aspetos:
1º Antes de mais, testemunhas do Ressuscitado. Tal como as primeiras testemunhas da Ressurreição do queremos estar conscientes de como é importante ter o Senhor vivo nos nossos corações. A sua atitude lembra-nos que se tivermos a coragem de “voltar à fonte e recuperar o frescor original do Evangelho, novos caminhos, métodos criativos, outras formas de expressão, sinais mais eloquentes, palavras carregadas de significado renovado para o mundo de hoje surgirão” (EG 11).
2º Segundo aspeto: sobre o caminho sinodal. O Evangelho noutra passagem diz que “as mulheres correram para fazer o anúncio aos seus discípulos” (Mt 28,8). A presença de Jesus não nos fecha em nós próprios, empurra-nos para um encontro com os outros e para uma decisão de caminhar com os outros. Estas mulheres escolheram não guardar a alegria do encontro só para si, nem fazer a viagem sozinhas: escolheram caminhar com os outros. Não tenhamos medo de sair dos nossos pequenos mundos, de acolher a todos e ser mais Igreja de portas e braços abertos. Na pesca abundante que nos fala o Evangelho (cf. Jo 21, 1-14), apesar de serem tantos os peixes, a rede não se rompeu (cf. Jo 21, 11). No Reino de Deus, as redes de humanidade e fraternidade não se rompem nunca. Todos t~em lugar. Sigamos, então, o desafio de Cristo: sejamos discípulos que lançam redes de relações fraternas para concretizar “o sonho missionário de chegarmos a todos” (EG 31).
3º E terceiro aspeto: semeadores de esperança. O encontro com Jesus ressuscitado enche-nos de esperança e “isto implica ser o fermento de Deus no meio da humanidade”. Por outras palavras, “significa proclamar e trazer a salvação de Deus a este nosso mundo, que muitas vezes se perde, que precisa de respostas que encorajem, que deem esperança, que revigorem a viagem” (EG 114). E podemos fazê-lo porque o Espírito Santo torna-nos capazes de ser semeadores de esperança, de ser também nós — como Ele e graças a Ele — “paráclitos”, ou seja, consoladores e defensores dos irmãos. O Beato cardeal Newman, num seu discurso, dizia aos fiéis: «Seremos consoladores à imagem do Paráclito e em todos os sentidos que esta palavra comporta: advogados, assistentes, portadores de conforto. As nossas palavras e os nossos conselhos, o nosso modo de fazer, a nossa voz, o nosso olhar, serão gentis e tranquilizadores». São sobretudo os pobres, os excluídos, os desamados a precisar de alguém que para eles se torne “paráclito”, ou seja, consolador e defensor. Lembremos também, e sempre, os irmãos mais idosos e tantos que vivem sós. Sejamos para eles consolação e esperança.
UMA PRESENÇA MATERNAL
Desde que cheguei a São Julião da Barra em 2008 e a Santo António de Nova Oeiras em 2012, entreguei as paróquias a Nossa Senhora para que fosse a divina Pastora a comandar os destinos da nossa vida comunitária. Refugiados sob a proteção da Virgem Mãe, pedimos-lhe, como ensina a Salve Rainha: «mostrai-nos Jesus».
Tem sido incrível ver, durante este tempo, como Nossa Senhora, em tantas circunstâncias, nos tem protegido de influências malignas e da divisão, e nos tem ajudado “a contemplar o verdadeiro rosto de Jesus Salvador, aquele que brilha na Páscoa, e a descobrir novamente o rosto jovem e belo da Igreja, que brilha quando é missionária, acolhedora, livre, fiel, pobre de meios e rica no amor” (Papa Francisco, Fátima. 13.05.2017). Ainda em janeiro consagramos o Centro Social Paroquial de Nova Oeiras. Apesar de algumas dificuldades que atravessava, desde a consagração, foi remodelada a equipa, encontraram-se soluções, recuperámos a estabilidade financeira e há um ambiente de paz. É caso para dizer: temos Mãe!
Deus deu-nos a Virgem Santíssima e foi Ele que colocou no Imaculado Coração de Maria um refúgio para a Igreja e para a humanidade. Por isso, peço-vos vivamente: agarrem-se a Nossa Senhora e entreguem-lhe confiantes as vossas vidas e famílias. Ela teceu a humanidade para Jesus, ela guiar-nos-á pelas sendas da paz e fará de nós artesãos da comunhão.
Com Maria e como Maria, já muito perto da JMJ Lisboa 2023, levantemo-nos uma vez mais e partamos apressadamente (cf. Lc 1, 39) para sermos, com renovado entusiasmo, testemunhas do Senhor Ressuscitado, no caminho sinodal e semeadores de esperança.
“NÓS VAMOS CONTIGO” (Jo 21, 3)
Sei que esta carta já vai longa, mas atrevo-me a deixar-vos uma última nota. No Evangelho da Eucaristia do nosso aniversário, percebemos que, naquela noite, Simão Pedro toma uma decisão: “Vou pescar” e os outros discípulos responderam-lhe: “Nós também vamos contigo”. E diz o texto que saíram e subiram para o barco (cf. Jo 21,3). Não apanharam nada… mas estavam juntos embora fosse noite e estivessem de mãos vazias. Mas foi quando estavam juntos que o Ressuscitado lhes apareceu e a pesca tornou-se abundante.
Este barco representa a Igreja e é interessante notar que entram todos para o barco seguindo Pedro. Estão todos juntos com aquele que será o representante de Cristo e, por isso, chefe da Igreja.
Nesta época de tribulações e incertezas no mundo e na Igreja, saibamos, mais do que nunca, estar unidos ao Papa e ao nosso Bispo diocesano. Possamos, em todas as circunstâncias, defender a comunhão fraterna e a unidade eclesial. Saibamos carregar a cruz redentora e renunciar a nós mesmos (cf. Mt 16,24), aos nossos critérios e gostos pessoais, sempre que estiver em causa um bem maior e o amor à Igreja, nossa Mãe. Que perante os desafios difíceis que somos chamados a dar resposta, tenhamos a ousadia de caminhar sempre juntos, de entrar juntos na barca e responder, na fidelidade ao Evangelho e na obediência filial à Igreja, com prontidão e destemida coragem: “Nós vamos contigo”.
Apetece-me, pois, dizer como Josué: se tivermos que fazer alguma escolha, então “eu e a minha casa serviremos ao Senhor” (Jos 24, 15), eu e as nossas paróquias iremos com o nosso Papa e o nosso Bispo.
Ao jeito do Papa Francisco, termino dizendo: “Desejo-vos tudo de bom e peço-vos um favor: rezem sempre por mim, como de costume. Porque este trabalho não é, de modo algum, fácil! Obrigado.”
Para todos imploro a intercessão maternal da Virgem Maria, entre nós invocada há mais de 500 anos como Nossa Senhora da Conceyção da Barra.
Nova Oeiras e São Julião da Barra, 14 de abril de 2023
O Pároco